Maratona Setembrina | Foda-se!

Fuck

Há expressões que tem o poder de definir situações, registrar momentos, estabelecer conexões, parafrasear a realidade. Uma delas é “foda-se”.  Ou “foda-se!”, para torná-la mais enfática. Considerando que “foder” é um verbo de ampla conotação, que tanto poderá ser utilizado para exaltar uma ação ou acentuar uma ofensa, sua aplicação é quase uma panaceia para resumir determinadas circunstâncias.

Utilizado como recomendação terapêutica em momentos muito estressantes, “ligar o foda-se” ou proclamar um “que se foda” é uma solução conveniente quando não temos o que fazer em alguns casos ou instantes, como deixar o barco correr, até que possamos reconquistar a condução do percurso. Ou largar mão definitivamente de algo que supúnhamos essencial e que venhamos a perceber que não fosse tão intenso assim. É considerada uma atitude zen.

“Foda-se!” é mais comumente usado para xingar alguém e, em muitas circunstâncias, poderá ser substituído por “vá tomar no cu!” ou “que se dane!”. A intenção é que a pessoa se dê muito mal, se estrepe, sofra muito. Não são poucos os que recebem com satisfação essa exclamação. A vítima do xingamento, muitas vezes buscou a reação verbal extremada e se sentirá recompensada por ver explodir na boca do suposto injuriante a mais excelsa das expressões de ódio.

Uma análise mais extensa do “foda-se” também significará que se peça ao alvo do (hipotético) impropério que se auto-satisfaça sexualmente. “Foder” é um verbo que é bastante empregado para designar relações sexuais. É usado intimamente por vários parceiros para ilustrar o que desejam de maneira prazerosa. “Foda-se!”, nesse caso, é encarado como um desejo de bem-estar dirigido ao alvo da expressão.

Sem querer complicar o quadro, posso dizer que há momentos que gostaria de mandar um “foda-se!” teleguiado a alguns sujeitos. Tanto quanto ficaria animado em desejar a mim mesmo diante do espelho, mãos a postos: “foda-se gostosamente!”. Assim como amaria foder com alguém, no melhor dos sentidos. E, se mais nada adiantar, posso sucumbir à tentação de “ligar um foda-se” geral em resposta a tudo o que está acontecendo neste País.

 

maratone-se

 

 

4 thoughts on “Maratona Setembrina | Foda-se!

  1. Essa palavra, nunca me disse absolutamente nada. Aliás, na boca das pessoas com quem convivo, comumente são tão vazias quanto dizer ‘dane-se’. Eu, da minha parte, acho que as pessoas procuram desculpas para acabar com o vocabulário. Eu já prefiro sorrir e observar-acenar. Nada do que eu possa dizer vai ser tão bem interpretado quanto o meu desprezo. rá.

    Enfim, usar a expressão em questão, aprendi com uma dama, minha mãe, que é nivelar por baixo e desperdiçar ar. Impossível não ouví-la, nessas horas. E, de tanto ouvir essa expressão, eu a adaptei, graças a um velho hábito que trago, graças a essa senhora-incrível: ‘folha-se’. Sempre me faz rir e pensar em folhas a cair mortas das árvores e eu a tentar pega-las.

    Como vês, meu caro, as palavras não nos libertam, a bem da verdade, ou nos limitam ou nos exaltam. Ah, certos monstros da realidade sabem bem disso e usam de toda a sua energia em seus discursos prontos.

    bacio

    1. Lunna, creio que por mais que queira evitar propagar seu efeito positivo sobre todos nós que a apreciam como escritora-orientadora, você consegue ser essa voz que “desequilibra” para o bem. Não diria que seja sensata, visto o desgaste pelo qual passa todos os nossos vocábulos, a serem revisados de um lado e de outro à favor e contra certas ideias que pululam pela aí. Eu evito verbalizar o termo citado como título em público e não é a minha intenção liberá-lo como sucedâneo de qualquer sentimento. Apenas constatei e tentei destrinchar o que tem se tornado de uso comum,por todas as latitudes, desmistificando-o. HÁ certos monstros que devem ser encarados de frente. Nem sempre com a devida propriedade.

  2. Vez por outra me pego pensando em palavras/expressões que carregam em si mesmas sentidos, no mínimo, duplos. É o caso da expressão em questão. Já li crônicas e poesias a respeito do quão libertador pode ser usar o “foda-se” para extravasar, proclamar “liberdades”. Penso que a nossa relação com as palavras tem a ver sempre com os nossos afetos (no sentido daquilo que nos afeta) e que, para algumas pessoas, em determinados momentos, bradar algo que não é comum ao seu linguajar e, sobretudo, foge ao ao seu comportamento padrão pode ser importante.
    “Eu já prefiro sorrir e observar-acenar. Nada do que eu possa dizer vai ser tão bem interpretado quanto o meu desprezo. rá.” Então, minha cara, acho que faz sentido se de fato não importar; se estivermos bem resolvidos por dentro. É um longo aprendizado. Creio que estou no caminho…
    Minha relação com o sentido do “foda-se” acontece para dentro, num grito de mim para mim mesma. Ou seja, entendo que devo “largar mão definitivamente” da pessoa/situação//história/problema que me fere ou desestabiliza emocionalmente. Encontro, talvez, o caminho onde não permitirei mais que o outro (pessoa física ou jurídica) me desrespeite. Algo como estabelecer os limites, uma vez que somos corresponsáveis pelo modo como somos tratados. E então, a sensação é de liberdade.

  3. O “foda-se” carrega correlações diversas. E, em muitas situações, fundamenta relacionamentos. Acima ou baixo a tudo isso, se justapõe a nossa relação com as palavras e seus significados, mesmo aqueles mais escatológicos. Como ressaltou, Maria, é um aprendizado, principalmente interno.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.