Sant’Anna fervilhava em plena hora do almoço com o vai-e-vem dos passantes e passageiros – somos todos passantes e passageiros. As pombas, já satisfeitas com a abundante alimentação proporcionada por aqueles outros seres que jogam restos de comidas nas calçadas e áreas de uso comum do terminal do Metrô, estavam reunidas em uma alegre confabulação em um ponto determinado do jardim. Ou simulacro de jardim, já que se apresentava pelado de grama devido às pisadas de homens e mulheres que dividem a praça com elas vivendo igualmente do lixo humano.
Chamou-me a atenção o comportamento daquele grupo específico de Columbas livias, já que se assentavam como galinhas poedeiras, calmas e descontraídas, em substituição á postura normalmente atenta e desconfiada. Realmente, pareciam prosear sobre o dia, as aventuras, os achados alimentares ou sobre a chuva que sabiam que cairia mais à tarde. Não creio que os homens ocupassem tanto o tempo da pauta. Talvez apenas não entendessem tanta faina daqueles estranhos seres que, presos ao chão, se deslocavam incessantemente em busca de seu próprio sustento.
As pombas desconheciam que o que aqueles bípedes sem plumas secretamente mais desejavam era o que de mais simples realizavam e que, naquele momento, desdenhavam: voar como elas…
Uma das coisas que sempre me incomodou em São Paulo foram as rolas, que não consigo chamar de pombos ou pombas. Oras oras. Me lembro de uma senhora que jogava milho na Praça da Sé para elas e um guarda tentava desestimulá-la (sem sucesso). Cena pitoresca com a qual me diverti por horas e horas. Até pensei em escrever a respeito, mas desisti por considerar teatral demais. rs
bacio
Esses ratos voadores se deram muito bem com o ambiente poluído das cidades grandes, Lunna. São personagens onipresentes.
Não gosto da mira.
Tem todo o direito, Mariel, escritor sensível e fino que é. No comentário em que os chamo de “ratos voadores”, esqueci de mencionar que gosto de roedores – ratos, especialmente. O ambiente poluído das cidades os transformaram em vetores de doenças. Assim como as pombas, são sobreviventes ao nosso estilo de vida urbano aviltado.
Tens toda a razão. Os pombos e outros bichos estão aqui por nossa causa.
Quando digo ” nado gosto da mira ” falo da capacidade que os pombos têm de acertar meu carro
Risos… Então, é melhor mesmo que se abstenham de voar, como essas, de Sant’anna.
Muito melhor que não voem