BEDA / Pobres Machos

Pobre Macho
Davi, de Michelângelo

Eu acredito na superioridade das mulheres e em seu domínio cada vez mais abrangente. Se formos descer até a base da existência celular – mitocondrial – não restará dúvidas de que sejam prevalecentes. A nós, homens, quase nos restará apenas ajudar na fertilização. Virá o dia em talvez nem isso será mais necessário. Em uma futura sociedade de Amazonas, teremos que nos conformar com a nossa condição de meros coadjuvantes na história da humanidade.

Quando fiz o curso de História, os documentos a que tive acesso relegava o papel da mulher ao ostracismo. Aquilo me deixava intrigado, visto que ao constituir metade da população, a sua participação surgia proporcionalmente ínfima. Tal qual Einstein, que aferiu que a distorção ao observar o Universo se devia à presença de corpos celestes não detectados, percebi que a projeção feminina estava mal representada. Percebi que ao ser escrita por homens, não haveria como ser diferente. Se pudéssemos recontar todos os acontecimentos do Grande Teatro Humano sob nova ótica, os bastidores viriam à frente do palco e tudo seria mais compreensível.

Quem me conhece, sabe que sou encantado pela mulher. Cedo, intuí que a opressão sofrida por elas em vários rincões do mundo, defendida como sendo a base de crenças e culturas, se deve, mormente, ao medo atávico que os homens têm de sua atuação, o que não existia no início dos grupamentos humanos, em que havia equanimidade no poder.

Sendo assim, ao compreender que a manutenção do Patriarcado é algo prejudicial a todos nós, chamo, a quem interessar possa, que examinem a perigosa posição  do macho humano, patrocinador dessa forma de organização social. Que se instaure a visão do movimento “machista” sob um ângulo positivo. Que ser macho-masculino não seja considerado algo em oposição ao modo fêmea-feminino de ser, conceitos ultrapassados que são, todos eles.

Para que o “Neo-Machismo” tenha fundamento, toda a rancidez advinda da expressão deverá ser reavaliada. Assim como o Feminismo, devido à ação de algumas representantes, não possa ser encarado como um movimento contra o homem, quando pessoalmente considero a favor da humanidade. Ou seja, ser homem não deveria ser adjetivado como “odioso” – uma aversão a mulher.

Há algum tempo, surgiram piadas relativas a melhor escolha entre 15 ou 30 cm do tamanho de sanduíches – mote publicitário de uma rede de alimentação rápida. Cada vez mais ocorrem citações mais ou menos explícitas com componentes sexuais, ao qual já aludi relativamente ao lançamentos de cervejas. Talvez o novo “Movimento Machista” devesse fazer uma moção de boicote a essa empresa. Obviamente é uma insinuação contra o macho menos dotado, em termos penianos. Considero que seja uma questão a ser colocada com cuidado – a da defesa do macho pejorativamente estigmatizado por ser de menor expressão de medida. Assim como a mulher, sem as formas idealizadas por uma visão deturpada, são discriminadas por não corresponderem a um padrão específico.

Aos poucos, a mulher ascenderá ao posto de protagonista. Esse processo é irreversível. Eu espero, sinceramente, que seja ao lado do homem. Que a mulher não haja como ele, mas seja a alternativa viável à nossa representação até hoje. Com a ascensão de mulheres ao poder, não apenas político, a humanidade estará em melhores mãos. Com a experiência que tenho ao observar o quanto consegue realizar uma mãe da Periferia, que trabalha, cuida de casa, dos filhos e ainda assim, se expressa como mulher, sei que seremos pessoas melhores sob o seus cuidados. Até o tempo que ser homem ou mulher ou qualquer outro gênero derivativo do masculino e do feminino não seja essencial para designar o caráter de um ser humano.

Ah, apenas para não pairar dúvidas: estou na média…

2 thoughts on “BEDA / Pobres Machos

  1. Seu texto me fez lembrar que flertei com Simone de Beauvoir que disse, entre tantas coisas ‘não se nasce mulher, torna-se mulher”. Essa frase me acompanhou desde que eu a li pela primeira vez. Ali eu entendi o que era o feminismo e me lembro da primeira vez que ouvi por aqui o discurso de que o feminismo era o ódio ao homem e ri (como ri ao ler a frase em seu texto) e indaguei na ocasião, de onde tinha surgido isso? E a pessoa em questão (do alto de seu machismo) afirmou que bastava olhar o comportamento das feministas. Não quis dialogar a respeito porque percebi que era apenas um discurso para questionar um movimento sério, que travava uma batalha pelo que nós mulheres temos de espaço hoje. É claro que iria surgir vozes contrárias. Como a do marido de Susan Sontag que não é o autor de sua obra mais importante e sim a própria Susan, que abriu mão dos direitos para poder ter a guarda do filho. Ou como tantas mulheres que precisaram usar nomes masculinos para conseguirem espaço no mundo literário. Minha nonna precisou enfrentar a família pelo direito de entrar na universidade. Mulheres são mutiladas na África porque homens não aceitam se casar com mulheres que acusem prazer na relação sexual. Dezenas de milhares ainda são estupradas e o Ministro se sente a vontade para dizer que o homem agride por se sentir intimidado. No mundo árabe alegá-se que o motivo do estupro é o rimel, já que é a única parte do corpo da mulher a qual tem acesso, já que usam burcas. A lista é grande e o feminismo é a arma para cada voz feminina que pede socorro ou nem pede porque não tem voz ou foi silenciada. A luta desse movimento não é contra o homem e sim contra o sistema e se homens fazem parte dele, me parece obvio que irão usar a idéia de que se prega o ódio-horror ao homem.
    Ao contrário de você, não acredito que a mulher vá dominar ou se impor e não acredito em sociedade para matriarcal. Infelizmente o mundo ganharia mais se houvesse uma igualdade entre homens e mulheres. Seria o melhor caminho. Mas, as pessoas gostam de atalhos, ruas sem saídas e por aí vai…

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