Apesar de saber que a vida é feita de porcentagens – somos 70% água, 10% meia calabresa, meia atum e, por aí, vai – eu, que já vivi situações em que o 0,1% se impôs, me irritei quando alguém citou, sobre determinada situação, a porcentagem de 99,9% como provável.
Por algum motivo obscuro para mim, já que cheguei a proclamar ser um digno representante do irritante “talvez”, acordei a querer ter certezas extremadas. Quero que tudo se defina 100%. Quero a absoluta convicção dos loucos, sem a intermediação de advogados a citar contestações em latim: data venia…
Quero a fé dos quem erram com perfeição, sem as frações cambiantes. Não quero cores intermediárias, nem o cinza. Quero o preto e o branco perfeitos. Quero saber onde estou e para onde vou. Quero saber quem eu sou. Quero receber amor e poder amar. Eu quero ter a mesma indubitabilidade da morte – certa e irremediável.
Eu gosto de metades e vou com elas. As porcentagens deixo para o meu menino e suas engenharias de cálculos e tabelas. Cem por cento e muito estranho para mim. Prefiro a metade ou o nada. Rá
A saber que cada pedaço é um mundo todo…