Lunna, quando me perguntou, ontem: — Cadê o senhor? Fugiu? —apenas pude lhe falar que aconteceu algo inesperado. O meu dia foi mais nublado do que outros — estas horas sem fim, grudadas umas nas outras, em que os horários não se impõem como antes: manhã, tarde e noite.
— Meu caro, no meu caso, tenho conseguido me organizar. Tenho sido muito produtiva.
— Acho incrível quando diz que consegue a organizar a loucura. Eu, não. A novidade é que tenho sonhado muito. Dizem que sonhamos sempre. Mas, ultimamente, tenho me lembrado dos sonhos. Outro dia, sonhei que estava na Coréia do Sul, em viagem. Em outra ocasião, que eu era uma mulher e estava grávida. Muitas vezes, me apresento nu diante de muita gente vestida, mas a agir de maneira natural. Assim como todos não parecem se incomodar com minha nudez.
— Pelo áudio, percebi que não estava bem.
— Se posso ressaltar um efeito é que acordei sem me recordar do que sonhei. Acho que meus canais se fecharam. Ou minha memória obliterou os acontecimentos oníricos e a realidade se fez mais pesada do que costumeiramente.
— Porém, de modo geral, se sente melhor?
— Acho que sim. Ao contrário de outras manhãs, decidi ficar em silêncio. Realizei as tarefas caseiras mudo e surdo, sem falar com ninguém. Não ouvi noticioso por qualquer meio. Sequer quis ouvir música. Os únicos sons que alcancei foram os latidos das minhas companheiras peludas. De vez em quando, pediam carinho e eu soltava vocábulos e inflexões de nosso léxico particular. O que me deu alento foi a marcação da aula que teria com você, agora à noite, sabendo que seria a melhor coisa que me aconteceria no dia…
*Texto derivado de um exercício do Curso Narrativa Em Primeira Pessoa, ministrado por Lunna Guedes.
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