Estou recebendo muito bem as tonalidades do cinza em meu corpo. Corpo que, um dia, em cinzas se converterá. Que tenha força e saúde para acolher plenamente os dias brancos! Em meu TCC do curso de Educação Física, que iniciei já acinzentado e terminei no ano passado, depois de passar por uma fase de saúde acidentada, utilizo os dados do levantamento do IBGE, que estipula que a expectativa média de vida do brasileiro gira em torno dos 75 anos.
Intitulei o trabalho de “Atividade física na terceira idade”. Nele, coloco de forma arbitrária que, ao dividir o total de 75 por 3, teríamos cada uma das chamadas “idades” com 25 anos. A primeira iria até esse limite, a segunda até os 50 anos e, partir daí, chega-se à terceira idade. Eu estaria, portanto, com os meus atuais 52 anos, nessa última faixa.
Brinco sempre que coloco esse número no espelho e me vejo com 25. Alguns estudos, no entanto, elevam o limite do início da terceira idade para os 60 anos, visto que as referências quanto à saúde física e mental, incluindo os diversos aspectos envolvidos, tem evoluído para a constatação para o fato de que, antigamente, as condições que nos colocariam de pijama, sentados “no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”, mudaram bastante neste século, a ponto de confundir os limites estáticos para a determinação de quem é (está) jovem e quem é (está) velho.
Lembro-me que, quando garoto, tentava imaginar como eu estaria já um velho, na passagem do século XX para o XXI, com 38 anos de idade. Ao chegar aos 38 anos, tanto quanto hoje em dia, vivo em contínua perplexidade por me considerar imaturo para as coisas da vida. Sinto-me em estado de constante aprendizagem. Continuo curioso e procuro viver um dia de cada vida, sabendo que “tudo agora mesmo pode estar por um segundo”.
Senti na carne a sensação de morte se avizinhando diversas vezes, mas tomei para mim a resolução de me ocupar realmente com a vida, sem me “pré-ocupar” com a morte, que considero apenas uma inexorável passagem para o novo. Em meu trabalho de TCC, tomei a liberdade de colocar o subtítulo de “Renascer antes de morrer”, já que procuro defender que, ao tomar consciência do nosso corpo, pondo-o em movimento, podemos evoluir para uma velhice plena de nós mesmos. Esforço-me em utilizar em mim os pressupostos que defendo, mas não digo que seja tão fácil. Tanto quanto chegar à Utopia, o País perfeito, que em grego significa “o lugar que não existe”, posso somente prometer que vou morrer tentando alcançar o objetivo que preconizei.
*Texto de 2014 que participa do livro de crônicas REALidade, lançado pela Scenarium Plural – Livros Artesanais em 2016.
Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Alê Helga / Adriana Aneli
Obdulio, cada fase de nossas vidas tem sua beleza peculiar. Tem também vantagens e desvantagens. Por incrível que pareça, gosto mais dessa minha versão green. Aos vinte/trinta anos, fui muito ingênua e paguei o preço. Aos quarenta melhorei um pouco mas ainda trazia uma ansiedade não sei de quê. Aos cinquenta, aos poucos fui conquistando uma paz, uma leveza e depois que apertei a tecla do “Phoda-se”, me libertei! (risos). Fique bem e não se leve tão a sério, nem se cobre demais. Apenas viva!
Corrigindo; Versão gray not green kkkk
Eu venho de uma família que nunca deu a mínima para a idade. Eu penso no corpo e faço por ele o melhor. Bebo café, faço caminhadas (não com tanta frequencia) e pedalo. Já fui patinadora. Hoje eu tenho um patins parado e enferrujado, mas porque não me sinto confortável para equilibrar-me em rodas depois do problema no tornozelo. Belo água, sou vegetariana e uso muito a minha maça cinzenta.
No mais… vivo!
Lunna, vivas pra você!