Certa vez, em um hotel desses que já conheceu melhores dias, encontrei uma estatueta. Era a de um cavaleiro berbere, um tuaregue que mantinha a atitude imponente, mesmo sem apresentar a parte de baixo da perna direita, que jazia na base, junto às patas traseiras do cavalo. Essa mutilação não fazia parte da concepção original do artista. Apenas aconteceu, por descuido e consequente queda acidental ou por uma guerra entre espíritos guerreiros. Estacionado entre dois andares da escadaria de emergência, aquele herói que cavalga solitário para o passado ganhou, nesse dia, uma testemunha solidária que agora o revela à luz.
Tuaregue é uma variação nominal de termos que podem designar morador de um jardim, salteador ou, em uma versão folclórica muito difundida, uma ligação à palavra tawariq — “abandonado por Deus“. De alguma maneira, esta imagem ganharia maior significado, se assim fosse.
Porém, o povo seminômade chama a si mesmo de Imazighen — “homens livres” ou “homens nobres”. De fato, esta representação o mostra em nobre e eterna liberdade congelada, como quando controlou as rotas de caravanas pelo deserto do Saara por centenas de anos. Aqui, o que o venceu — o acaso, o imobilismo ou o fantasma do quarto 102?
Essas estatuetas despertam nossa imaginação sobre o que de fato representam e o que aconteceu à elas. Belo texto!
Grazie, Roseli!
Comecei a comentar e o comentário virou texto, vai lá ar ao blogue quando eu fotografar o rapaz que vende estátuas de madeira na esquina de casa. rs
Que legal, Lunna! Isso já aconteceu comigo. Apreciei que tenha tido esse efeito sobre você.