Tempos de secura e, segundo soube, condição que pode afetar a produção de ovos, explicaria a razão de que há mais de uma semana eu não ter encontrado um ovo sequer no ninho “oficial”.
Em outra ocasião, as Kardashians escolheram um recanto menos óbvio, em meio a um monte de gravetos e folhas resultantes de podas, para botarem. Só percebi quando vi uma delas, a Kendall, saindo do buraco que mostrava o casulo onde estavam depositados alguns ovos. Dessa vez, após procurar por todos os cantos, nada de encontrar um suposto esconderijo.
Eu fui granjeiro quando menino. Eu ajudava a minha mãe, que passou a criar galinhas para sustentar a casa na ausência do meu pai. Morava na casa ao lado, que hoje é da minha irmã. Quando o terreno que ocupo foi comprado e doado para nós por minha avó, transferimos a criação para cá, voltada a maior parte para a venda de galinhas e frangos.
Naquela época um tanto precária, os galinheiros eram improvisados e os animais viviam soltos. A produção de ovos caipiras garantia que tivéssemos algum alimento quando botavam. O que nem sempre acontecia. Era normal o plantel envelhecer (algumas galinhas se tornavam minhas amigas e ganhavam nomes próprios) ou por alimentação deficiente, resultado da falta de dinheiro para comprar milho. Com ele, eu fazia quirela para os animais mais novos com um velho moedor.
Além disso, os ninhos que montávamos nem sempre eram apreciados e simplesmente não encontrávamos os que as “meninas” faziam. O mais chato é que, sendo uma área quase rural — cinquenta anos antes — outros bichos também se interessavam por “nossos ovos”. Além de ratazanas, havia a Fofinha. A esperta cachorrinha conseguia fazer um buraquinho e chupava o conteúdo dos ovos, deixando a casca praticamente intacta. Durante muito tempo achávamos que fossem cobras…
Vez ou outra, achava os esconderijos. De início, não pegava os ovos. Ficava à espreita para saber se estavam sendo chocados. Se não, os recolhia. Não era incomum vermos ressurgir galinhas sumidas com pintinhos atrás de si em sinfonia de pios. Buscavam a proteção da comunidade e do galo. Para não haver confusão e brigas, mantínhamos apenas um. Garbo, tamanho, força e comportamento protetivo nos davam as pistas para referendarmos o escolhido.
As minhas filhas querem filhotinhos das Kardashians e talvez não quisessem que eu encontrasse o esconderijo das galinhas garnisés. Mas hoje me surpreendi por vê-lo escondido embaixo do galinheiro que fica um metro acima do solo. Elton John já demonstrou ser um bom galinho, dedicado a Kim, Kendall e Kylie. Ajudaria a cuidar dos pintinhos.
Mas ainda não tenho certeza de que seja o momento. Recolhi as quase uma dúzia e meia de ovos quase irmãmente divididas — seis de cada uma. Eu os reconheço por terem cores diferentes. Os da Kim são azuis; os das Kendall são amarelos escuros e os da Kylie, claros.
A atual comunidade apresenta bichinhos de personalidades diferentes para quem sabe observar. Quando garoto, ficava muito tempo olhando o comportamento da criação e algumas galinhas se acostumavam tanto com a minha presença que ficavam menos assustadiças. Os frangos e galos mantinham a distância de machos que têm como prorrogativa desconfiarem de tudo e se manterem alerta, assim como o Elton John o faz.
A Kim é a mais confiante e curiosa, a ponto de não se assustar comigo e de ter saltado para fora do perímetro do galinheiro, ficando à mercê das cachorras. Tive que cortar metade de uma de suas asas. A Kendall é impetuosa e logo que chegou, escapou para a rua. A Kylie é a mais nova e ainda tem a personalidade em formação, se adaptando às outras. No futuro, é bem possível que tenhamos pintinhos as acompanhando. Aguardemos…
Uhuuuuuu texto delicioso.
Os nomes das galinhas são demais! Rs
Ideia das minhas filhas para elas. Ele, já chegou com o nome de Elton John.
Esses animais passam a fazer parte da nossa família. De pequena, tivemos uma pata – Chiquinha – que acompanhava a meninada em tudo. Tivemos também um papagaio divertido e amigo que após enfrentar meu pai para nos proteger, partiu para um sítio de amigos da família. Nosso quintal ficou pequeno demais para ele e meu pai conviverem. Adorei a história!
Para você ver, Roseli, eles nos fazem perceber que ainda podemos ter salvação…
Eu acredito que sim, temos salvação!