
Blade Runner, de Ridley Scott — filme ao qual assisti no início dos anos 80 — além da linguagem cênica e fotografia impecáveis, trouxe-me elementos novos com relação à memória elaborada mentalmente, a nos distinguir como seres conscientes de nossa identidade. A película conta a história de Replicantes, androides com tempo de vida pré-programado — marcados para morrer — que buscam quem os criou para que desenvolva uma maneira que faça com que continuem vivos para além da data de “validade”.
Proust, com Em Busca do Tempo Perdido, ressalta a apreensão da memória através dos sentidos, interpretada pelo intelecto. Os Replicantes contavam com memórias implantadas, corroboradas por imagens em fotos com pessoas que representavam pais, irmãos, parentes, amigos e eles mesmos, menores. No entanto, nenhum daqueles personagens efetivamente existiu…
Ainda que não fossem humanos, os androides passam a valorizar verdadeiramente a vida. Alcançam a compreensão de sua importância incomensurável de uma forma talvez muito mais clara do que os humanos que desperdiçam displicentemente a energia vital de seus corpos. A penúltima cena, desenvolvida em cima do prédio sob a chuva ácida, entre o líder dos Replicantes e o implacável caçador de androides — interpretado por Harrison Ford —, passeia por minha memória desde então como uma lembrança viva, ainda que “implantada”.
A compaixão que senti pela triste e terrível figura que tenta continuar a viver por passar a amar a vida foi um sentimento verdadeiro, porém. O que me leva a acreditar que, para além da memória padronizada em recordações estanques, o sentimento talvez seja a medida mais completa que venha a nos identificar como pessoas reais e plenas.
Momentos antes de morrer, o replicante Roy Batty, depois de salvar Deckard de uma queda para a morte, diz enquanto cai a chuva: “Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer…”.
Participam do B.E.D.A.:
Adriana Aneli
Cládia Leonardi
Darlene Regina
Lunna Guedes
Mariana Gouveia
Roseli Pedroso
Esse filme, dos que assisti, é o melhor da ficção científica. Assisti inúmeras vezes e a cada assistida, novas descobertas filosóficas. Um clássico!
Faz tempo que eu assisti a esse filme. Lembro-me que a pergunta que passeava por aí era a respeito se o personagem do Ford era ou não um robô e eu nunca me questionei a respeito. A bem da verdade, fiquei mais interessante na questão da genética. As pessoas falam em destino, como se estivéssemos programados para ser assim, devido a tudo que trazemos em nós. Chaplin também abordou isso em um filme. Outros também o fizeram. Mas, nada é tão evidente como em Blade Runner. Será que é possível nos libertar dessa base a que estamos (aparentemente) acorrentados? Bela trama de nucleotídeos ligados em combinações específicas e únicas, que por acaso, chamamos de cadeias polinucleotídicas, rá
Esse filme (ainda não li o livro que o originou) é tão rico em propostas que merece ser visto sempre que possível. Quanto à libertação das cadeias de DNA-RNA, sugestões, crenças e religiões não faltam escapar aos processos orgânicos. São ilusões concretas que interferem na realidade, consciente e inconsciente.