Ontem, varria o quintal quando vi restos de um ovinho de lagartixa, bichinho que admiro muito. Fiquei feliz com os passinhos imaginados do Hemidactylus mabouia recém-nascido por nosso quintal, espaço que considero um abrigo da vida, incluindo plantas, pássaros visitantes, aranhas, borboletas e outros insetos. Eu sempre fui fascinado por Ciências e quando criança acreditava que as simpáticas lagartinhas que subiam pelas minhas paredes eram descendentes diretas dos dinossauros. Eu era fascinado pela Origem das Espécies, de Darwin, e as via como representantes ao alcance dos olhos da seleção natural e adaptação dos seres que pululam pelos continentes e oceanos.
Criador de galinhas e amante dos pássaros, principalmente pela capacidade de voar, sonho de todos nós, nunca havia imaginado que esses seres fossem resultado da adaptação daqueles que dominaram o planeta por 160 milhões de anos. O termo “evolução” visto no sentido de aprimoramento é demonstrado cabalmente quando percebemos que o necessário foi feito para que as antigas espécies que aqui viviam, se adaptassem para aproveitar os recursos disponíveis. Se estivessem ainda caminhando entre nós, não teriam chance de continuarem ativos. Um meteoro os aniquilou em pouco tempo, a nossa espécie o faria não tão rapidamente, mas assim como faz com as que se adaptaram às circunstâncias terríveis do clima instável que resultou do choque, certamente ocuparia seus habitats, os matando.
Somos como um meteoro. Nós estamos aqui há apenas 200 mil anos. A força do impacto de nossa presença é equivalente a de um corpo imenso vindo do espaço que colidiu neste planeta de 4 bilhões e meio de anos. Em pouco tempo, extinguimos diversas espécies de plantas e de animais, devastando grandes áreas em terra e no mar. Supostamente desenvolvemos um cérebro com imensa capacidade cognitiva. Contudo, a nossa inteligência parece estar voltada para uma sanha conscientemente destrutiva. Se não for precipitado por algum acidente, deverei morrer até a chegada de meados deste século. E sinto que não verei a nossa espécie evoluir para a cultura de preservação da vida pela simples percepção de sua vital importância para a nossa própria preservação.
Recentemente, chegaram a mim Elton John e as três Kardashians — galo e galinhas garnisés — proporcionando uma viagem na minha história pessoal. Diferente de 50 anos antes, desde há muito sei que são descendentes dos colossais animais que caminharam pelo chão no qual pisamos. Eu os vejo não apenas com o respeito que sempre dei a todos os seres, franciscano que sou, mas também por sua história antiga, apesar da conformação recente em termos de características morfológicas. Mesmo porque a adaptação das espécies ao meio é constante. Um pouco mais tarde, li a notícia da descoberta do ovo que abrigou “Baby Yingyang”, fóssil do embrião de um bebê dinossauro perfeitamente preservado. Pertencente ao grupo dos terópodes oviraptorídeos, parentes distantes das aves, a projeção em vídeo de sua existência me emocionou. Hoje, dia de #TBT, não vejo algo que mereça maior homenagem do que a lembrança de uma vida de 66 milhões de anos, ainda que não tenha chegado a eclodir em toda a sua potencialidade.