… há uma diferença. Mas nem tudo o que podemos fazer deve ser feito. Não faltam ocasiões nas quais nos arrependemos de realizar o realizável, mesmo que aparentemente inofensivo. Para mim, é fácil cometer poesia, já que eu vejo tudo como se a vida escondesse certa trama poética. Mas materializar essa poesia em palavras pode redundar apenas em poesia ruim.
Eu, quando criança, tinha sonhos com um tema recorrente – peixes. Sonhava tanto com peixes a nadar que pensei em construir um laguinho artificial assim que possível. Já antecipava o prazer que sentiria ao ver os peixes se movendo de um lado para o outro por entre pedras e limites… Esse “pormenor” já tornaria o meu sonho menor. Perguntei-me: por que tentar conter um sonho dentro de um laguinho? Por que os meus sonhos não poderiam circular por todos os mares?
Eu, no entanto, poderia objetar que no lagos, nos rios ou nos oceanos abertos, eles enfrentariam o perigo e a morte a cada palmo, enquanto estariam protegidos em meu cantinho sintético… Como sou um ser composto basicamente um tanto de “porém” e outro tanto de “talvez”, contraponho de mim para mim mesmo que os seres somente podem alcançar as suas plenas potencialidades estando livres para realizá-las, ainda que por breves momentos. E, a meu ver, esse instante máximo equivaleria a toda uma vida de platitude.
Outrossim, devemos tomar cuidado para que um sonho não seja derivado apenas de um desejo pueril, com consequências funestas, se concretizado. Com o tempo, mais experientes, talvez consigamos perceber quais os sonhos que devam ser colocados em prática e quais aqueles que se restrinjam permanecer exclusivamente no plano dos sonhos, portanto eternamente belos e perfeitos.