Seu Zé não bebia. No entanto, aquele senhor de tez escura e barba branca de Preto Véio, tinha diante de si sempre um copo e uma garrafa de cerveja. Em uma tarde de domingo dessas, lá estava ele sentado à mesa de plástico em frente à TV postada ao alto da entrada padaria, com o seu olhar que não deixava de me surpreender por sua tristeza. Entrei para comprar pão e ele ainda estava sozinho. Cercado de ausência, assim dessa maneira, nunca me pareceu tão tristonho.
Postei-me na fila das pessoas que estavam à espera da próxima fornada de pão quentinho e pude presenciar a chegada de seus colegas de tardes solitárias e que eram efetivos bebedores. Logo, o Seu Zé estava acompanhado por risadas e conversas animadas. Todos os convivas mal percebiam que o seu copo quase nunca se esvaziava, apesar da chegada das muitas garrafas. Apenas conversava e trocava gargalhadas alheias por sorrisos sutis.
Troquei de posição umas quantas vezes, a pretexto de verificar produtos expostos na geladeira e nas gôndolas, somente para observar a evolução daquele episódio da sessão da tarde. Mais um pouco, já havia demorado demais e pedi o que queria. Deixei o Seu Zé, agora rodeado de gente, mas ainda tão isolado na vida quanto antes. Eu intuí que ali estava alguém que em sua existência apenas pareceu beber dor.
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