BEDA / Hellen

Hellen era daquelas mulheres que não passava despercebida por onde andasse. Algo no seu passo confiante, seu porte de espinha ereta de bailarina que foi, rosto expressivo de quem conhecia a si mesma a distinguia. Professora universitária, parecia ter a resposta certa para qualquer assunto. Sorriso aberto, bom copo, da mesma maneira que atraía, assustava homens e mulheres. Solteira por convicção, escolhia com quem sair como quem tivesse a disposição uma lista previamente estabelecida. O que não correspondia à realidade. Diferente do que pudessem presumir, Hellen usava bastante a intuição para consumar os seus encontros. Quase sempre entrava e saía incólume desses embates sexuais em que a paixão tinha hora de início e fim.

O seu admirável autocontrole sofreu um abalo quando conheceu um casal na casa dos 30 anos que, bastante ousado, a abordou em seu bar preferido. Após duas horas de uma divertida conversa, a chamaram para uma noitada íntima em sua casa. Apesar de passar dos 60, essa modalidade de diversão nunca havia experimentado. Cria que pudesse controlar melhor as relações com parceiros masculinos ou femininos unitários. Antes tivesse evitado aquela noite na qual nunca havia sentido tanto prazer e paixão. Derreteu-se com a coreografia inventiva da moça que feito Isadora Duncan, performava movimentos inéditos e criativos, além do uso da língua com uma desenvoltura soberba. E pela fluidez do rapaz que sabia o que fazer com o seu pau, no tamanho ideal para a satisfazer com delicadeza e potência.

Assisti-los também era um deleite. Hellen gostava de filmes pornôs bem feitos, que saíam do lugar comum e que a estimulassem enquanto usava os seus brinquedinhos quando estava só. Vê-los atuando presencialmente superava em muito qualquer dos que assistira nos últimos anos. Essa aflorada pulsão sexual carregou durante séculos de sua vida e que reprimiu durante seu tempo de titular da cadeira de Filosofia. Ela frequentemente ficava atraída em série por colegas e alunos, mas no último ano de faculdade deixou emergir como lava de um vulcão adormecido. Decidira se aposentar e fechar o ano letivo com chave de ouro. Não se importava em distribuir notas para os alunos mais dotados em tamanho e menos aquinhoados de talento para a Filosofia. Melhor assim. Eram mais ativos, confiantes e menos verborrágicos.

Agora, esse casal lindo e sensual a derrubando de seu pedestal de senhora do destino. Estava apaixonada. Para ela, terminaria essa troca desenfreada de parceiros. Após o terceiro encontro, perguntou a eles se não gostariam que se unissem como um Trisal. De maneira educada, o que a feriu mais ainda, os dois disseram que queriam se manter apenas como um casal. Que a achavam maravilhosa, linda e tesuda, mas que uma terceira pessoa poderia instabilizar o que tinham — uma conexão e integração maravilhosas. Eles aceitavam a entrada eventual de uma mulher ou de um homem, mas sempre tendo os dois como ponto de equilíbrio. Hellen, sorriu como se fosse mais para si e se despediu dos dois amantes. Ferida, lamberia as feridas por um tempo, amargando a saudade que tentaria mitigar enfileirando casos elegidos em aplicativos, que passou a utilizar. Encontros nos quais muitas vezes os parceiros nem se apresentavam ou sequer emitiam qualquer palavra durante a hora de sexo desesperado.

Foto por Pascal Bronsert em Pexels.com

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.

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