Projeto Fotográfico 6 On 6 / Quinquilharias

Estou cercado de quinquilharias. Quando jovem, imaginava que viveria à margem da Sociedade, uma vida alternativa em que não precisasse de penduricalhos para me afirmar como pessoa. Eu estaria sempre em trânsito, mochila nas costas, usufruindo da Natureza para sobreviver, trabalhando para me sustentar minimamente. Sonhos de uma noite de verão juvenil. Passadas as décadas, estou atulhado de objetos, muitos supérfluos. Outros, nem tanto. Ao me casar, fui transportado para outra plataforma de vida. As circunstâncias me obrigaram a entrar como colaborador do Sistema.

Para complicar, fui criado por pais que passaram necessidades materiais. Guardavam tudo o que podiam. Principalmente, o meu pai. Graças às suas latinhas de manteiga que abrigavam parafusos pregos, porcas, elásticos e outros utensílios, e pelas quais era fascinado, comecei a escrever, desenhando as letras. Queria saber o significava aqueles desenhos que “enfeitavam” as embalagens. Comecei a reproduzi-las. Ao longo do tempo, o acervo de guardados do meu pai aumentou exponencialmente. Para ajudar, ele se tornou recolhedor de materiais recicláveis. Daí, pude começar a minha própria coleção de quinquilharias. As mais importantes, os livros.

Livro se come? Não, mas a depender do interesse que desperta em mim, eu o devoro. Livro é um item supérfluo em muitos lares brasileiros. Seria uma quinquilharia dispensável. É raro irmos a algum apartamento, por exemplo, e encontrar um cantinho em que haja livros dispostos a ocupar o espaço físico. O que não quer dizer que o morador não possa ter o hábito da leitura. As bibliotecas estão aí para suprir essa demanda.

Um dos motivos para guardar quinquilharias apresenta apelo sentimental. Os objetos expressam, de alguma forma, as lembranças que venha a ter de um determinado fato. No caso do trofeuzinho quebrado – cada vez menor ao longo do tempo – eu o recebi como prêmio num festival escolar de música. Esta envolto a tantos outros objetos, embalagens e dispositivos que larguei por ali até ser finalmente desprezado, como as pilhas que precisam ser dispensadas com segurança para não poluir o meio ambiente.

Eu tenho um quarto que fica fora da casa em que guardo parte do meu equipamento de trabalho e que não uso tão frequentemente, além de ferramentas e peças de uso eventual como pregos, parafusos, fitas, elásticos, lâmpadas e os recicláveis que dispenso para os catadores de recicláveis no dia da passagem do caminhão de lixo. Mas antes de ter uma parede reformada para organizar a bagunça, ela aumentou consideravelmente com o acréscimo de outras coisas, como esses quadros que estão à espera da parede reformada.

Eu tenho certa dificuldade de me desapegar de certas coisas. Uma meia velha e rasgada, a qual gosto muito, deixei a encargo da Tânia dispensá-la. Objetos que fizeram parte da história das crianças, também. A dispensa acontecerá, certamente, mas o exercício do apego é um tanto viciante.

Há objetos que ficam em trânsito, indo de lá para cá e em sentido inverso, igualmente. Vivem em estado “provisório-permanente”. Até que sejam recuperados ou definitivamente colocados fora de nosso alcance. Por um tempo, cumprem a sentença de ostracismo.

Gosto muito desses lagartos fujões! Retirados da parede da sala para reforma, ainda penso vê-los a nos observar largados nos sofás vendo TV. Ou escrevendo ou me vendo a participar dos cursos de literatura da Scenarium etc. Por enquanto, estão descansando em um ponto diferente, longe dos nossos olhos cotidianos.

Participam: Lunna Guedes /  Roseli Pedroso / Claudia Leonardi / Mariana GouveiaSilvana Lopes

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