Bem moço, em nosso televisor PB de 14″, em uma dessas sessões noturnas de cinema, assisti a “Irmão Sol, Irmão Lua”, de Zeffirelli, filme de 1972. Recém adquirida a nossa TV 20″, em 76, após a introdução das transmissões em cores no Brasil, o revisitei, com as suas tonalidades fortes do movimento Flower Power, na Sessão da Tarde. Quando passou no cinema, em sessões especiais, voltei a sentir a brisa, o frio, o sol, a angústia, a Natureza, o amor, a busca, o desencontro de propósitos terrenos e espirituais, o encontro de almas de Francisco e Clara.
Em meu romantismo pueril, torcia para que o casal tivesse se unido ordinariamente – homem e mulher – como seria natural entre dois belos jovens, de famílias abastadas, estabilidade de finanças e poder sobre as pessoas. Eu era ateu ou, minimamente, um agnóstico. Repentinamente, algo despertou em mim. Leituras e mensagens foram surgindo em meio a tantas outras solicitações. Adentrei pela senda do imponderável. Essa foi a fase em que me tornei mais francamente religioso, não no sentido de frequentar missas e pregar mandamentos. Na verdade, percebia a Verdade em manifestações vindas de todos os quadrantes, de todas as crenças. Tornei-me um livre pensador cristão-franciscano-budista-hinduísta. A minha igreja era onde estava.
Eu quis radicalizar a minha opção, meio que perdido, desconfiado das instituições, estudante de História e, portanto, ciente de todas as atrocidades cometidas em nome da Fé. Ainda assim, acreditei que a Igreja Católica pudesse me auxiliar no processo de amadurecimento da Busca. Comecei a estudar para me tornar Frei – irmão menor – na tentativa de atuar mais fortemente no caminho de chegar ao cumprimento do máximo mandamento: amar ao outro como a si mesmo. Eis que me deparei com a máxima incongruência: eu não me amava… Eu me conhecia demais. Diante do espelho, encontrava todos os dias, o meu maior antagonista…
Depois de muitas dúvidas e quase nenhuma certeza, fiz a opção pelo caminho contrário, que relatei em história já contada em uma crônica que está em meu livro REALidade, pela Scenarium Plural – Livros Artesanais. Constituí família. Na dificuldade dos relacionamentos interpessoais, creio ter feito a escolha correta para conseguir me amar um tantinho mais. Muito menos do que aos outros, que prefiro não julgar. Por outro lado, não poupo a mim. É a maneira que encontrei de me conduzir à Luz. Ainda estou a tentar me livrar da “culpa” de me sentir bem em um mundo tão desigual.
Um dia, caso tenha oportunidade, irei a Assis. Quero caminhar pelos mesmos campos, mirar os mesmos poentes, acordar com as mesmas auroras que o meu irmão do Seculo XIII. Quero, como Francisco, me despir de mim, abrir os braços para o mundo ao meu redor e me sentir um com o Todo…
E sendo humano, demasiadamente humano, como poucos conseguem ser, Francisco viveu plenamente o amor ao próximo que, acredito, é a única forma de amar a Deus, seja qual for a crença que professemos.
Como você, vi o filme algumas vezes. Com seu texto, voltei à sala de TV de Dona Maria (única casa da rua onde moravamos que tinha o eletro e que recebia a meninada para ver a programação da tarde) e as lágrimas, que carregam muitos significados, brotaram dos meus olhos. Que o amor resista aos tempos!
Que lindo relato, Maria! Quase imediatamente, me transportei para minha infância, quando éramos convidados para usufruir do sofá da minha tia para assistirmos TV. Apenas anos depois, conseguimos adquirir nosso televisor Bandeirante, 14″, PB. Não há imagem em aparelhos modernos que supere as viagens que realizei através daquele aparelho…
Poucas pessoas entenderam, sentiram e viveram A Mensagem de Deus como São Francisco de Assis.
Parabéns pelo texto e pela história.
Paz e bem.
Obrigado, Luiz Gustavo! Francisco me emociona desde sempre…
E sendo humano, demasiadamente humano, como poucos conseguem ser, Francisco viveu plenamente o amor ao próximo que, acredito, é a única forma de amar a Deus, seja qual for a crença que professemos.
Como você, vi o filme algumas vezes. Com seu texto, voltei à sala de TV de Dona Maria (única casa da rua onde moravamos que tinha o eletro e que recebia a meninada para ver a programação da tarde) e as lágrimas, que carregam muitos significados, brotaram dos meus olhos. Que o amor resista aos tempos!
Que lindo relato, Maria! Quase imediatamente, me transportei para minha infância, quando éramos convidados para usufruir do sofá da minha tia para assistirmos TV. Apenas anos depois, conseguimos adquirir nosso televisor Bandeirante, 14″, PB. Não há imagem em aparelhos modernos que supere as viagens que realizei através daquele aparelho…