
Ouviste, certa vez, o chamado atávico e o teu corpo
Transformaste em instrumento de vida, dos pés ao metacarpo
Resultado de encontros de vultos de épocas anteriores
Estavas preparada para aceitares a vocação de sonhadores
Os teus pés, adaptados para saltar, além de caminhar
Deslizavam, além de se mover, comoviam, quando te viam transpirar
Transpôs o óbvio com os teus passos construídos de dor
Quando tinha que comer, viveu apenas de ar e bebeu apenas suor
Segurou o ar, quando tinha que se expressar, calou a palavra
Para emudecer, de emoção, uma multidão, com a arte de tua lavra
Leoa com andar de serpente, és um monstro, uma quimera
Quem pensa que te conquista, em verdade não considera
Que é consumido pelo fogo da qual és filha, mãe e senhora
Concedes a atenção obsequiosa de quem és servil portadora
Da graça suprema de seduzir e encantar, de prometer o Paraíso
Ao alcance do olhar, de sereia que faz o navegador perder o juízo
Vives na terra, apesar de viajar pelo amplo, para além, para o espaço
E fulguras, diminuta figura com as asas de Ísis, a voar para além do chão escasso…