Quando alguém se torna uma “Ideia”, como se fosse a perfeita definição de uma ideologia, na verdade incorre-se numa idealização. Normalmente, subjetiva. Qualquer um pode pensar o que quiser sobre essa ideia.
Quando alguém é chamado de Mito, podemos inferir que mito seja uma questão de interpretação, geralmente enganosa. Como o “Mito da Caverna”, de Platão. Nele, a experiência de vida reclusa se confronta com a claridade – um conhecimento novo – que é alcançado quando o sujeito se liberta do claustro. Seria tão fácil se a luz revelasse tudo… A luz também pode ofuscar, a ponto de não percebermos a verdade. É como se o brilho excessivo revelasse algo que está além da capacidade que algumas pessoas têm em enxergar. Há igualmente os cegos por opção ideológica ou incapacidade de percepção por estarem com as costas voltadas para o lado contrário ou porque a mentira lhes convém.
Há, ainda, os que estão a ver o que acontece, das suas possíveis consequências e apenas querem se beneficiar com a miopia ou cegueira coletiva, ao afirmarem que também não estão a ver a realidade ou interpreta-na de forma fantástica. É comum acreditarmos muito mais na mentira elaborada do que na verdade simples. São os recursos dos manipuladores-ilusionistas.
O entendimento da realidade imediata, portanto, acaba por se tornar algo tão pessoal que é comum duas pessoas brigarem por concordarem na essência, mas discordarem quanto à forma. Radicalmente, acho que só nos entendemos convenientemente no escuro, com as bocas abertas e as línguas caladas num beijo…
Fiquei aqui a dialogar com o meu Platão pessoal. Como estou no quarto escuro tenho apenas uma sombra que tela do notebook produz, mas esta tão presa a minha figura que inexiste. Logo, tudo são sombras e o mundo parte disso. Fecho os olhos e compreendo a minha limitação. Mitos, lendas, deuses para mim, são seres humanos demais para eu dar alguma atenção.