É muito comum que eu olhe para o alto. As nuvens, as busco como se fosse um mago a prefigurar em suas formas agouros de desgraças ou presságios de boas novas. Mas não infiro nada. Apenas sou apaixonado pelas transições dos vapores d’água de elefantes para personagens históricos, baleias para dragões. Quando as nuvens escurecem – eventual prenúncio de tempestade – raios podem vir a riscar o firmamento-campo-de-batalha da Natureza. No entanto, a abóboda sob a qual caminhamos, também poderá surgir em monocromático azul celeste, de indecente nudez, como esta tela que registrei em um março ainda incrédulo da borrasca pela qual passaríamos adiante.

Além do céu, busco o chão. Caminhante da metrópole, o cinza impera nas vias ou leitos carroçáveis (termo advindo dos tempos das carroças) pelos quais passo. Sou pedestre e onde moro costumamos caminhar a pé pelas rotas dos automóveis. É uma tradição que conheço desde que surgiu o primeiro asfalto no bairro. O rio cinzento só não é totalmente monocromático porque buracos surgem recorrentemente. Poucos metros se afiguram tão perfeitos como o que mostro aqui.

Para quebrar um pouco a monotonia das portas metálicas, uma loja da Praia Grande, cidade onde fiquei isolado uma parte da Quarentena, decidiu chamar a atenção com um lilás chamativo que apenas foi vislumbrado tão fulgurante porque estava fechada. Era o início da restrição no funcionamento de pontos comerciais e empresas. Normalmente, o belo campo de lavandas metálico ficaria menos expressivo se estivesse recolhido à luz do dia.

No bairro de Cidade Ocian, a prefeitura da Praia Grande pavimentou as ruas centrais com tijolinhos vermelhos. Ao som de “GoodbyeYellow Brick Road” na cabeça, viajei na possibilidade de ver Dorothy, com Totó ao seu lado a caminhar junto ao Leão, o Homem de Lata e o Espantalho. Ela caminhava entoando “Over The Rainbow” a caminho do mar, em direção ao Netuno e seu tridente. Uma faixa de luz do sol, por um breve instante, atendeu à imaginação do garoto que retornou ao lugar em que foi mais feliz.

Ouvi várias vezes o termo “verde de raiva”. Para mim, se há verde, há esperança. Desejo firmemente que o verde um dia se espalhe por nossos solos a perder de vista. Quando a vingança do verde prevalecer, talvez tenhamos alguma chance de sobrevivermos a nós mesmos.

A ausência de cor, também é uma cor. Ao contrário do branco – síntese de todas as cores – sem o campo escuro que se estende sobre nós, à noite, não poderíamos distinguir as luzes das estrelas, a Lua ou outros planetas. A escuridão parece esconder segredos e nos impulsiona a criar seres fantásticos onde somente imperam nossos fantasmas. O preto é paz…

Ale Helga — Darlene Regina — Lucas Buchinger
Mariana Gouveia — Lunna Guedes
Praia Grande!!! Saudades do mar, da areia, das pessoas caminhando sem pressa…
Por aqui o céu esta bem azul e as ruas nem posso dizer que tem cores…Afinal, não há cores para medo, tristeza, isolamento…
Abraços
O meu sentimento junto ao mar sempre é o de reconexão, embora tenha nascido na selva de pedra. Abração, Ale!
Falou em monocromático eu já penso em fotos em preto e branco. Sinto falta de conseguir deixar algumas das minhas fotografias em p&b, preciso voltar a fazer isso.
Quanto às suas escolhas, achei legal você ter escolhido certas texturas com cores únicas e contado o que cada uma te passa 🙂
Graças, Luana Souza!
Gostei do chão de tijolos vermelhos, li em algum lugar que o chamam de tijolo de construção. Adoro…
Realmente, Lunna! Os tijolinhos de construção deram um ar mais aconchegante ao centrinho da Cidade Ocian.
Praia Grande, estiveste perto de mim! Moro em São Vicente…
Gostei das tuas cores, interessante a forma como colocou.
Abraços
Darlene, costumo voltar para a PG vez ou outra, ainda que não possamos neste tempo de Covid-19 frequentar as areias e entrar no mar. Só de vê-lo, já me sinto melhor. Abração!