BEDA / Scenarium / O “Um” Anel*

Anel
O Precioso
Ontem, sábado, estava no ponto de ônibus, quando a luz tímida do dia nublado incidiu sobre uma peça que brilhava junto aos meus pés. Abaixei-me e o peguei — era um anel. Pode ter sido perdido, escapado dos dedos ali mesmo ou trazido pela água da forte chuva da noite anterior, que o carregou junto a vários outros restos.
O “um anel”, foi apenas segurá-lo entre os meus dedos e comecei imaginar histórias por trás de sua existência. Qual seria o valor deste anel? Quase nenhum, considerando o financial. Deveria custar uns 15 ou 20 Reais, no máximo. Era uma bijuteria feita de um metal simples, imitando a prata e apresentava um desenho em “S”, que alinhava quatro “pedras” lateralmente a outras quatro. Na verdade, um desses oito “brilhantes”, feito de plástico duro, era diferente dos outros sete, que eram mais claros do que esse, amarelado.
Levantei duas hipóteses para essa configuração. A primeira, é a de que tenha sido adquirido assim mesmo. A segunda, é a de que o anel possa ter perdido uma pedra do conjunto, que foi substituída por uma parecida, mas nem tanto. Uma das hipóteses pode envolver a distração do comprador; a outra, a precariedade do conserto. Qualquer opção implicaria na simplicidade do material e de quem o detinha. Simplicidade econômica, mas talvez não de sentimentos.
Eu poderia escolher a suposição de que fosse apenas um anel comprado por alguém, provavelmente uma mulher (segundo a minha avaliação), para si mesma ou para uma amiga; ou ainda de que tenha um presente de uma mãe para a sua filha ou de uma filha para a sua mãe. Mas acabei por escolher a conjectura de que tenha sido um presente de amor romântico, porque hoje preciso que seja assim.
Na hipótese daquela amiga a presentear à sua amiga, seria porque ela fosse mais do que especial. Ou ainda a de um amigo para outro mais do que especial ou de um homem de poucos recursos que quisesse oferecer o melhor anel que pudesse comprar diante de seus poucos recursos para a sua namorada. Adivinhei que fosse um anel de compromisso, representando o pedido para uma coisa mais séria entre eles.
Já os via tendo a paciência de esperar na fila pelo ônibus no horário mais tardio, simplesmente para poderem voltar juntos no coletivo lotado, sentados em um banco que os levaria, em suas conversas, para um lugar muito mais longe do que a distante periferia na qual viviam. Quis sentir que esse fosse o valor do “um anel”, assim que o vi. Eu o guardarei, em respeitoso sinal de seu suposto poder.
*Texto de 2015

 

B.E.D.A. — Blog Every Day August

Adriana AneliClaudia LeonardiDarlene ReginaMariana Gouveia

Lunna Guedes

14 thoughts on “BEDA / Scenarium / O “Um” Anel*

    1. Estava, mas nem tanto, Mariel. Várias postagens que disponibilizo já havia feito no Facebook. Mas a Lunna, minha “preceptora” disse que o Facebook era terra de ninguém. Postando no WordPress, estabeleço a autoria. Além disso, é uma plataforma diferente, com público alternativo à outra rede social. Se bem que não me importo tanto quanto à quantidade. Abraço, meu caro!

  1. Dentro de nós é possível fazer trajetos inimagináveis… É tão bom ter o poder de criar “realidades”, inventar mundos, sentir prazeres que, no cotidiano, esquecemos que existem. Texto encantador. Desconfio que o anel carregava o símbolo do infinito.

  2. Adorei essa crônica. Ontem li e não comentei, hoje retornei apenas para dizer que espero que um anel que perdi tempos atrás tenha encontrado alguém com suficiente atenção para imaginar toda uma história para ele…rs… (Não foi esse, pelas características).

    Abraços

    1. Algumas coisas só são encontradas, se perdidas. Já perdi dinheiro e torci para quem tenha o encontrado, tivesse real necessidade dele. Quem sabe o seu anel não tenha feito surgir uma linda história de amor, Darlene?

      1. Também já perdi dinheiro e torci para que a pessoa que encontrou realmente precisasse. E já achei dinheiro em momentos de muito aperto. E já perdi casacos, sacolas com compras, chaves, cadernos. Já encontrei celulares e devolvi. Coisas se perdem e se acham o tempo todo. O que elas diriam se pudessem falar?

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.