Eu não acredito em alma gêmea. Ou melhor, não acredito que a nossa vida deva se fundamentar na busca de alguém com a qual venhamos a se identificar a tal ponto que nos dê prazer apenas por ser igual a nós. Considero que isso seja uma espécie de masturbação. Eu acredito no crescimento mútuo das pessoas pelo embate de ideias, pela diversidade de sentimentos, pela diferença de posturas, pelo confronto de mundos. Eu acredito tanto nisso que me permito ser o outro, vez ou outra. Cada vez mais… Chamaria isso de compaixão – quando nos colocamos completamente na situação que o outro ser está vivendo. Essa viagem para outro é perigosa, conquanto não tenhamos certeza total de quem sejamos (se é que a temos alguma vez). Enfim, essa transitoriedade deve ser buscada com cuidado para que não nos percamos no caminho.
Em uma brincadeira interna da Scenarium Plural, chamam de “Eu Lírico” o empreendimento de ser outros. Eu, meio que cainho de paraquedas, sugeri que seria igualmente um “Eu Rico”. Graças a essa a personalidade lírica, podemos cometer pecados, dentro da escrita, buscar experiências, fazer quase uma peregrinação extracorpórea para construir histórias nas quais viajamos. Assim é quando escrevo. É comum eu me colocar no lugar de alguém que permite se apaixonar na caça de outra pessoa com a qual se identifique.
Passo por altos e baixos em minha própria auto avaliação, mas creio que tenha um ponto fulcral, uma linha mestra que me conduz que me permita dizer: “esse sou eu”. E esse ser não consentiria ferir quem quer que fosse ao buscar aventuras para, um dia, se comprazer em se encontrar, ele mesmo, em outra pessoa. No entanto, aceito igualmente a possibilidade de que o indivíduo acredite que isso seja possível e tente empreender esse encontro. Eu me vigio em minha prisão ética, mas não quero deitar normas para o amor. Liberdade para os amores!
Depois de parar e observar o efeito do vento nas árvores da rua, nessa manhã de domingo nublado que eu vi acontecer… posso dizer que, não acredito em eu lírico tanto quanto não acredito nessa busca por alguém igual, ou que seja, alma gêmea. Embora o mito grego nunca tenha dito nada a respeito de pessoas iguais, aliás, foram as diferenças existentes entre as partes que levou Zeus (o bufão) a separá-las… rs