fui até a água do mar
dia frio praia deserta
penetrei nas tramas líquidas
do corpo que me absorve
a sensação quase completa
não se dá porque mesmo eu água
não estou dissolvido como o sal
estranho-me estando apartado
me engulo em lágrimas que parte de mim
também é mar
e me integro à desintegração de ser só
sem o total do céu e de si
o sentimento perdura e se digladia
meu corpo ainda vibra potência
ergo-me da cama sono de quatro horas
a espada erguida denuncia que quero brigar
a luta perdida contra o tempo
tudo é questão de tempo
o dia amanhece invernoso
nesta Primavera quase morta
vigésimo primeiro ano do vigésimo primeiro século
olho-me que não sou eu no espelho
na camiseta que visto there is no finish line
e nisso acredito
não deixo a neve grassar na cabeça
limpo o caminho dos meus pensamentos
mas já é tarde
não ser sendo gosto disso
me sinto confortável
na incongruência de ser-não-ser
estou incompleto
estou perdido
estou perfeito…