Maratona De Outubro | Sobre Gêneros Literários

Gêneros
Todos os gêneros…

Em Etimologia, gênero deriva do latim generu, genere, que significa nascimento, origem. A palavra gênero ganhou ultimamente repercussão extremada. O papel social atribuído ao homem e à mulher e às suas identidades sexuais passaram a ser discutidas até em programas de governo. Aparentemente, há aqueles que creem que possam intervir nas preferências pessoais humanas, a partir do Estado. Esclareço que tratarei sobre minhas preferências… literárias. São gostos que, muitas vezes, não deixam de ser conflituosos. Ao ser perguntado sobre qual gênero literário prefiro, fiquei em dúvida.

Antes de responder a essa questão aparentemente simples, percebi o quanto o temor de não esclarecer totalmente nossas predileções, de maneira geral, avança sobre quase todos os assuntos da vida. Qualquer resposta que dermos estará sob judicie por quem a recebe. Ao dizer que comecei pelas histórias em quadrinhos, talvez fosse desacreditado. Minha iniciação na literatura foi igualmente escudada por ficção científica e fantástica, mitológica, através de Monteiro Lobato, Júlio Verne e outros. Concomitantemente, adorava ler enciclopédias e dicionários.

Eu me lembro que, quando garoto, desejava a aprovação das pessoas quanto ao meu comportamento. Na adolescência, a minha evidente incongruência nos grupos, familiar e amigos, passava despercebida pelas boas notas na escola e no futebol, entre os colegas, apesar da minha miopia. Gostava de poesia. Carlos Drummond de Andrade era o meu preferido, entre todos, mas, antes dele, tive contato com Gonçalves Dias, Augusto dos Anjos e Castro Alves, que me impressionaram bastante, além dos poetas românticos Fin De Siècle brasileiros. Ao mesmo tempo, o romancista Machado de Assis invadira minha vida e meu discurso de escritor, então já iniciado, que também sentiu a força da expressão de Jorge Amado.

Mais tarde, ao buscar uma postura cada vez mais alienada do sistema, fui ficando cada vez mais misantropo, ajudado pelo fato de começar a frequentar a faculdade de História, curso em que ninguém se conhecia. As divisões por classes diferentes a cada semestre, colaborou para impedir que permanecêssemos muito tempo juntos com os mesmos colegas. Passei a ler, além dos livros da matéria, os de Filosofia e místicos-religiosos de várias vertentes. No mesmo balaio metia Michel Focault, Paramahansa Yogananda, Emile Durkheim, Os Vedas, Santo Agostinho, Nietzsche, Boris Fausto, Kardec, Claude Lévi-Strauss, Sérgio Buarque de Holanda, Reich e Gilberto Freyre, bem como a sempre presente Bíblia.

De novo, o futebol me salvou de ser um esquisito calado. Escalado para o time da História, dentro do campo estranhamente meu estilo de atuação mudou. Os jogadores humanistas da História, forçou-me a transformar o médio-volante elegante em um arranca-toco, distribuindo pancadas a torto e a direito. Cheguei a lembrar de Ernest Hemingway. Aflorou o jogador da periferia, que jogava “contras” nos campos mais inóspitos da cidade. Sabia de minha capacidade em me dividir em outras personalidades sob determinadas circunstâncias, temperatura e pressão. Cheguei a recear certa tendência esquizoide, mas em reunião com os outros habitantes em mim, decidimos que não fosse algo preocupante…

Desde que tomei contato com os livros, alguns autores fizeram morada em meus olhos e mãos – Rosa, Wolf, Pessoa, Borges, Lispector, Cortázar, Cecília Meirelles, Garcia Marques, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, J.M. Coetzee. Mais recentemente, voltei a minha atenção para os escritores da Scenarium, que perfilam seus trabalhos em um recanto especial em minha biblioteca. Postagens em blogues da Internet – poesia, crônicas, contos, artigos científicos e psicologia – foram acrescidas ao meu dia a dia.

Em resumo, sejam crônicas, poesias, romances, contos, livros de filosofia, religiosos, biografias e históricos, eu prefiro ler sem fronteiras. Já passei por várias fases de preferência. Em momentos específicos, exerceram ampla influência na estruturação de meu pensamento e de minha postura como ser humano. As palavras adentram por nossos olhos e se instalam em nossa alma, fazem morada permanente, ainda que não lembradas. É como se fossem as paredes de nossa casa, ainda que caiadas de branco, são estruturas que nos guardam. Gênero preferido: o vital.

Participam também desta Maratona:

Ana Claudia | Ale Helga | Cilene Mansini | Fernanda Akemi | Mari de Castro | Mariana Gouveia | Lunna Guedes

2 thoughts on “Maratona De Outubro | Sobre Gêneros Literários

  1. ah, meu caro…
    Eu já passei da fase de ler sem fronteiras… e eu já fui assim, lia sem puder e sofria se não conseguisse avançar na leitura e me obrigava a ler. Enfim, isso é assunto para o próximo post. rs

    bacio

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