Para desespero de quem se utiliza de critérios puramente claros, estudados e racionais para a escolha de leituras, ouso cometer uma falta ao declarar que não sou eu quem escolhe os livros que eu leio, mas são os livros que me escolhem para lê-los. Já tive diversos exemplos desse fenômeno durante toda a minha vida de leitor, mas citarei apenas dois.
O primeiro e mais recente foi o surgimento de Coetzze em minha vida. Não me lembro como Juventude veio a cair em minhas mãos, porém seu impacto foi devastador. Percebi o quanto a minha escrita estava alicerçada em devaneios vãos, agravada por uma interrupção de vinte anos no exercício de passar para o papel o meu mundo particular. Ainda que escrevesse compulsoriamente, como não mostrava a ninguém, não fazia a menor diferença o que produzia.
Juventude, eu não o procurei, não sabia de sua existência, apenas aconteceu. A falta de lembrança ajuda a criar esse clima de encontro à escuras. Logo, quis também encontrar Infância e Verão, a trilogia do autor sul-africano sobre uma personagem, que bem poderia ser ele mesmo, que relata a sua trajetória de maneira a não deixar pedra sobre pedra. A sua influência em minha dinâmica mental foi tanta que pretendo empreender uma jornada similar em um projeto para logo mais, a depender de análise externa.
Contudo, devastação maior foi o encontro com Paramahansa Yogananda e sua Autobiografia De Um Iogue (Contemporâneo). Eu era agnóstico-ateu na época. O livro de capa rota abria com a apresentação de uma amuleto. Estranhamente, acreditei na sua existência assim que terminei o primeiro parágrafo. Li o livro de fiada e o reli. Estava decretada a revolução em minha vida. Tudo começou a fazer sentido.
Fazia sentido me tornar vegetariano (o que fui durante dez anos) e todas as proclamações de fé no Invisível, agora essencial. Os livros de Kardec não tiveram tanto peso quanto a descrição da vida na Índia do jovem aprendiz de Mestre Sri Yukteswar e a busca pela Verdade. Tornou-se meu objetivo visitar a longínqua pátria do Hinduísmo. No Brasil, iniciava-se a aparição de várias instituições ligadas à gurus e seus ashans, mas resistia em mim certa desconfiança em ser manipulado, como já vira acontecer mais de perto, com pessoas do meu meio por pastores mal versados e iracundos das igrejas pentecostais cristãs.
Ao mesmo tempo, fui tomando contato com o Budismo, ao começar a buscar paralelismos em todas as vertentes de fé. Encontrei coincidências e imbricações, incluindo o Cristianismo. Para não tornar a história tão longa, da mesma maneira que mergulhei no Orientalismo, decidi mudar meu rumo ao fazer o contraponto à negação do mundo material. Casei. Constituí família, deixei de escrever. Talvez, não tenha nada a ver uma coisa com a outra. Talvez, sim. De qualquer forma, o fato é que nunca mais deixei de ter como base o Imponderável, por mais que invista na potência do mundo físico. Perdido? Talvez. Estou a espera que outro livro me encontre para, finalmente, poder me reencontrar…
Participam também desta Maratona:
Ana Claudia | Ale Helga | Cilene Mansini | Fernanda Akemi | Mari de Castro | Mariana Gouveia | Lunna Guedes
Uau!! Respirei fundo e arrepiei, moço.
Vou atrás da Autobiografia De Um Iogue… Vou sim!
Mariana, será um mergulho em um mundo que compreenderá de imediato, já que a Natureza é a face mais próxima da divindade.