Normalmente, o Ilusionista atua da seguinte forma – enquanto diz que faz alguma coisa, está a agir de outra, a desviar a atenção do público que o assiste. A intenção é que seja entendido como real a mensagem que expressa. Aquilo que não é visto, naturalmente não acontece abertamente, porém surge no final como verdade, porque é um fato. O bom Ilusionista surge com um simpático manipulador e é saudado como tal, apesar da diferença entre o que anuncia e o que resulta como concreto. Nesse caso, o encantamento com o Mágico é maior e mais efetivo do que a mágica que ele pratica. É como se ele dissesse: “vou enganá-los, vocês se sentirão gratos por isso, apesar de saberem, ao final de tudo, dos truques escusos que cometi para chegar ao resultado – ainda que artifícios de poder curto”…
É preciso um talento raro e natural para levar multidões ao engano por muito tempo, mas mesmo alguns mágicos meia-boca conseguem fazer os seus números ruins e iludir quem os acolhe por algum período, mesmo porque, as pessoas pagam para serem enganadas e preferem acreditar que o crédito que depositaram no seu enganador favorito não tenha sido de todo em vão… A máscara que o Trapaceiro autoproclamado usa, se fosse possível descrever, é composta por um matéria especial, montada com pele grossa e costurada com fios dourados, brilhantes como ouro de tolo, da mesma substância usada por ele para compor a sua linguagem simples, mas direta. Mais do que a mente, chega ao coração e ilude. E faz bem ao espírito de quem o toma como um Mestre dos Magos…
Para além do auditório privado ao qual se acostumou se apresentar, o Ilusionista percebe que tanto as pequenas quanto as grandes plateias podem ser levadas à ilusão coletiva da mesma forma. Aliás, quanto maior a audiência, melhor o efeito da fantasia. Com o treino que aprimorou desde cedo o seu engenho, consegue levar adiante projetos mirabolantes, truques velhos com novas roupagens, números cada vez mais espetaculares, para o júbilo do povo que o assiste. Diante de tamanho impacto de suas ilusões, empresários artísticos buscam contratar o Ilusionista-Mor para várias apresentações, com sucesso retumbante de público. A tragédia se dá quando o palco se agiganta e se torna um País inteiro…
Por mais que esses ilusionistas se repitam ao longo da história do Show Business, o público igualmente se renova, cada vez menos exigente, por consequência do decréscimo patrocinado da erudição da assistência. As ilusões mais chinfrins ganham a marca de extraordinárias e efeitos pífios repercutem na alma dos espectadores como uma inconteste versão da vida que deve ser vivida, embora falsa. Nesse triste espetáculo de ilusionismo para as massas, perde-se a oportunidade de apreciarmos a beleza da ilusão pela ilusão, uma brincadeira com os sentidos e as emoções – uma arte graciosa que se torna ilusória. Ao tomar o que não é verídico como fato, troca-se o sentido do real e perde-se a oportunidade de se ver crescer apreciadores da verdade como bem precípuo da existência humana. O sucesso aglutina em torno de si bajuladores e seguidores e serão eles, guiados pelo Mago, que dividirão a opinião dos espectadores entre fãs e críticos. Do aplauso entusiasmado para a violência do tapa, pode se passar em um rápido movimento das mãos…
Há muitos que se sentem gratos ao se saberem enganados. Que coisa, não?
Tão gratos por se saberem tão bem iludidos que transformam a ilusão em fé.
bem isso