Permanente

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Em 2017, diante de mais uma das crises que me fazia duvidar de nossa espécie, escrevi sobre o entardecer daquele maio: “Relutei em postar essa imagem do crepúsculo de hoje. Em tempos de ideais crepusculares, que precisam da violência para serem impostas a quem pensa de forma diversa, me pareceu talvez uma atitude insensível. No entanto, devo sempre render a minha homenagem ao que é permanente e belo, apesar dos seres humanos”.

Atualmente, em maio de 2020, passamos pela pandemia de Covid-19. As previsões, para São Paulo, diante do índice de isolamento social, abaixo de 50%, é que a pandemia se espraie até outubro, com tempo de isolamento provavelmente estendido. Porém, há uma constatação que apenas alguns poucos consideram e alertam: estamos todos juntos nessa situação ̶ não somente a cidade, mas o Estado, o País, o continente, o mundo.

Um vírus que deu as caras na China pela primeira vez em meados do ano passado, hoje ataca pessoas no interior do Amazonas ou nos confins da Patagônia. Por lá, por causa de um churrasco, um grupo de pessoas furou o isolamento social imposto desde meados de março na Argentina, espalhando a doença pela pequena Loncopué, de 6.000 habitantes. As autoridades locais decidiram fechar acessos ao vilarejo, após o registro de duas mortes pela Covid-19 e ao menos 40 casos confirmados da doença.

Enquanto não houver um trabalho conjunto de todos nós, de todas as latitudes e paragens, para o combate a uma enfermidade de proporções planetárias, sofreremos coletiva e individualmente. Mesmo sendo o mais óbvio, isso não impedirá que haja oposição a certas proposições que passam pelo estabelecimento de políticas contrárias a muitos mandatários, preocupados muito mais em atender a interesses corporativos do que públicos.

Um típico político é vaidoso. Vaidade exacerbada pelo egoísmo e por certo sentimento de baixa autoestima. Que muitos deles queiram se opor à pandemia e contestar a realidade que se impõe é bastante sintomático dessa expressão de ser. Ainda que não entendam com o que lidamos, querem o protagonismo, mesmo que suas posturas estejam aquém do sensato. Porém, devemos salvaguardar as exceções, aqueles que demonstram espírito público e pensam à frente.

Felizmente as atualizações das nossas crises institucionais são solenemente menosprezadas pelos crepúsculos ̶ em entardeceres um após o outro ̶ referendando nossa condição passageira com a sua permanente beleza. Talvez, essa seja a maior esperança do planeta Terra ̶ de nos tornarmos passado.

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