Acordei a pensar nas mulheres. No quanto elas são diversas e divinas; únicas e triviais; ostensivas e intraduzíveis; simples e talentosas; práticas e mágicas… Citei, certa vez, que muitas mulheres são bruxas. Antes que um xingamento, considero essa expressão, um elogio. As bruxas foram aquelas mulheres de todos os séculos que, por justamente estarem a frente de seu tempo ou compreenderem a complexidade das coisas ao seu redor e muitas vezes para além de seu território e tempo, acabaram segregadas, condenadas e sacrificadas no fogo ou outro meio de erradicação daquela presença incômoda pelos homens, então no poder aparente.
Sempre tentei compreender o lugar da mulher na História — uma história normalmente contada por vencedores e homens. Como elas quase sempre aparecem como um apêndice da atuação masculina, percebi que havia algo errado nesse conto do vigário (portanto, um homem). Aos poucos, pude encontrar exemplos de trabalhos e movimentos de origem feminina, em várias frentes, pelos quais os homens levaram a fama. Sei que, pela divisão do trabalho que se desenvolveu ao longo da civilização humana, os homens assumiram as funções mais visíveis e, supostamente, mais proeminentes. No entanto, o serviço de base, desde a organização dos “pequenos” detalhes do dia a dia até a cuidado dos novos comandantes da ação, bem como a reprodução dos movimentos básicos que suportaram e ainda suportam as bases do nosso crescimento como seres que buscam a evolução, foram realizadas por mulheres. Isso, se não acontecer da participação da fêmea da espécie ser tão escancarada, que seja impossível evitar que ela esteja presente nos anais históricos como autora, inventora ou diretora da criação.
Portanto, desejo às todas as bruxas de minha afeição ou distantes de mim, os melhores votos de boa condução do novo mundo que nasce sob os escombros da incapacidade masculina em administrar o nosso espaço. Espero que vocês tenham aprendido com os nossos erros e não assumam a nossa postura arrogante. As imagens que estou postando junto com este texto estão tratadas com efeitos e derivam de originais pelas quais fiquei obcecado. Trata-se de modelos de vitrines que deviam estar ali para serem reparadas. Alguns dos corpos estão mutilados, sem algum dos membros ou, até, sem as cabeças. Quantas vezes não ouço dizer que mulheres são boas, pena que tem personalidade e falam. Triste! Porém creio que, no fundo, mesmo os machistas sabem que sem as mulheres nós não estaríamos na Terra, seja como espécie, seja como digníssimos filhos da mãe! E, por isso, talvez carreguem certa inveja rancorosa.
Beijo, bruxas!
*Texto de 2013.
Adriana Aneli / Alê Helga / Claudia Leonardi / Darlene Regina
/ Mariana Gouveia / Lunna Guedes / Roseli Pedroso
Belo e reflexivo texto sobre nós, mulheres. Acredite: Somos Todas Bruxas! O problrma é que algumas (muitas), não têm ainda consciência de seus poderes (risos). E sigamos em frente na luta pois ela está apenas começando! Abraço
Oi meu querido!!! Obrigada pelo texto…Infelizmente vivemos em uma sociedade “cega” e egoístas, onde tantos são desrespeitados…
Abraços
Eu confesso que não acredito na tal inquisição com relação as bruxas. Acho que isso não passa de lenda inventada para homens com intenção clara de determinar o que poderia acontecer com mulheres que não soubessem o seu lugar.
Queimar é muito simbólico. Que não se assusta com um incêndio a consumir uma estrutura, seja qual for. Como disse o poeta Heinrich Heine: “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas.”
As vítimas da inquisição e do nazismos eram específicas e poderiam ser denominadas “bruxas” para lembrar o lugar de cada um na estrutura social feita por homens para homens, tendo os muitos livros sagrados como guia-mapa-norte.
Quanto as mulheres, acho que são figuras incríveis, mas não acho que os homens sejam menos, apenas são alvos mais frágeis do próprio esquema social. Diria que é o feitiço virando contra o feiticeiro. rá
É uma visão do contexto histórico, Lunna. O fogo é simbólico, sem dúvida, faz parte da História como depurador do mal. Não por outro motivo que esteja intrinsecamente ligado ao Inferno criado pelos homens. Mas não foi prerrogativa apenas da Inquisição Católica esse tipo de punição. Onde houvesse uma comunidade com um líder religioso de qualquer ordem, era uma possível sentença que pairava sobre ela, com ocorrência ocasional. Os livros se popularizaram bem mais tarde e passaram a ser o alvo preferido dos eternos controladores do pensamento alheio. Atualmente, com a Internet, fico a imaginar que tipo de controle poderia ser exercido sobre ela. Bem, os chineses e norte-coreanos podem dizer…