Suzana, bom dia!
O seu nome evoca o da minha professora de Biologia no Colegial, hoje Ensino Médio. Bastante observadora, percebeu a amizade próxima que eu tinha com uma colega de classe. Na frente de todos, perguntou se estávamos namorando. A minha amiga ficou sem palavras. Só pude dizer: “Professora, ela é noiva!”. Ao que a Profa. Suzana respondeu: “e daí?”… Olhei para o lado e não pude encontrar o olhar (que baixara) da moça de 19 anos que estava completando seu estudo com uma classe de alunos mais jovens. Eu era muito imaturo, em muitos sentidos. Emocionalmente, muito mais. Dois anos mais novo que a moça de 19 anos, para mim havia um impedimento maior pelo fato dela ser comprometida do que por ser mais velha, um tipo pelo qual sempre fui fascinado. Hoje, eu sei que ela gostava de mim. No final do ano, me presenteou um livro de poemas de Castro Alves, que sempre demonstrei amar. Eu, nunca a esqueci.
Mas não estou lhe enviando esta missiva para falar de mim, mas de suas marés, que evocam o eterno movimento das águas pessoais a nos alimentar de poesia e vida. Navegar é preciso. E por nós, muito mais. Você expõe suas vagas através das palavras e das imagens que evocam palavras: “fotografou o verbo / expôs a palavra. / marcou o vocábulo. / Anotou, fotografou / escreveu o sentimento / em nota de rodapé”.
Esse imbricamento entre as várias formas de Arte deve se chocar com o seu lado de jornalista, que repercute a dura materialidade da Realidade. Qual seria o desenho que faz para filtrar as mazelas do que nos é revelado? Qual seria a imagem que mostre a transformação do dito para o inaudito? É como experimentar a suave melancolia de uma manhã feliz. É observar por completo o momento que passa e permanece. A garoa que cai e nos aquece nesta terra paulistana. É transformar a si enquanto transforma às outras pessoas.
Suzana de todos os matizes, Martins marcial pelo direito de ser total. Expressão de mulher inteira que se divide em tantas expressões. Foi e é muito bom tê-la perto do nosso olhar, no grupo da Scenarium, por onde veio a versão deste mundo (in)versos e do meu, através de suas Marés. Espero ter disponibilidade suficiente para continuar a usufruir de sua sensibilidade. Porque me faz bem.
Um abraço forte!
Obdulio
Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Gouveia / Suzana Martins
Serial Ser 
Confesso que fiquei a olhar para uma janela aberta enquanto o lia e não encontrei a Suzana, a minha Su. Gosto imenso desse desenho que fazemos das pessoas… bendita seja a multiplicidade do um.
Como disse, você tem a sua Su e eu, construírem a minha, Lunna. Teremos o tempo a nosso favor.
Ah Obdúlio, que encantamento receber a tua missiva.
Meu coração pulsa emocionado diante da beleza das tuas palavras e do teu carinho. Receber a tua carta nesse dia tão gelado aqueceu o meu sorriso. Trouxe o perfume do mar salgado até mim.
E saiba que são os desenhos dos versos que leio aqui e ali que filtram as mazelas realistas dos dias cinzentos. Esse toque de delírio faz com que o transbordar das palavras afaste as dores da realidade que atravessa as notícias.
Obrigada pela tua missiva e que continuemos a trocar versos inteiros no reverso da letra.
Beijos
Suzana, a Lunna disse que não encontrou a sua Su nas minhas palavras. Respondi que estou ainda a construir a minha. Obviamente, será uma eterna obra inacabada por suas características múltiplas. Abração!
Belas pinceladas você traçou na construção da sua Su, Obdulio. É bem isso, o olhar de cada um capta caracteristicas do outro. Nisso reside a beleza do ser.
Recentemente, eu disse à Lunna que as missivas “escolhem” seus destinatários. Vejo aqui que a missiva ganhou o coração de quem recebeu. Isso já é por si só um acerto.
Abraço
Eu me senti gratificado da mesma forma, Mariana!