Minha cara,
nestes tempos, nunca estive tão ciente de uma afirmação que assumisse a plena ignorância sobre algo. A moça do tempo “marcou” para esta sexta-feira a chegada da água vinda dos céus, feito promessa, dessas que fazemos sem saber que se cumprirá. Como estou escrevendo esta missiva na noite de quarta, não cometeria a fraude intelectual de editar o texto para caber em algum argumento. O que estou percebendo é que cada vez menos as previsões sobre o tempo têm sido acertadas e o erro é, basicamente, humano. Ou porque a metodologia não tem sido a correta ou porque o que servia antes para nos alertar sobre os movimentos do clima está sofrendo alterações pela intervenção humana no bioma.
Eu amo a chuva! Principalmente aquela que eu costumo chamar de criadeira. Essa palavra, que no Português não tem no masculino, é perfeita em si. Esse tipo de chuva é aquela que cai forte e precisa no tempo-quantidade adequado, como se fosse um grande regador que ajuda a fecundar a terra, faz brotar as sementes e nesta cidade imensa lava o piso do quintal, banha os edifícios do Centrão, limpa as calçadas da Paulista, umedece o asfalto das Marginais, não inunda as várzeas e não faz desmoronar as encostas das ocupações precárias e irregulares da Periferia. Quem da janela a vê cair percebe sua cadência, admira a sua energia aquosa e seu tamborilar ritmado sobre os telhados. Deixa um beijo nas folhas das árvores conferindo um brilho especial a esses seres fascinantes.
Quando eu era menino, jogador dos times do bairro nos campos de várzea, quase sempre sem gramado, adorava jogar quando chovia. Chegava em casa sujo de lama e de alma lavada. Nada nos impedia de continuar a partida. Sempre mais importante que nossas vidas por eventuais raios que pipocassem. Sabíamos que os trovões anunciavam que o raio já havia caído. Fim de perigo.
O tempo seco não prospera apenas no meio ambiente. Vejo as pessoas passo a passo a transportarem essa secura para dentro de si. Seus interiores ressequidos sofrem com a escassez da chuva criadeira. Temos vistos plagas desertificadas nas quais caminham seres desumidificados. Sequiosos pelo poder emitem palavras secas, conflagram falas estéreis, reproduzem histórias áridas. Temo que se o chão vier a abrigar algum líquido será o do sangue que jorrará dos habitantes nas veias abertas das urbes e dos campos. Sinceramente, espero que essa previsão de homem inconformado do tempo não se cumpra.
Participam do B.E.D.A.:
Darlene Regina
Mariana Gouveia
Darlene Regina
Roseli Pedroso
Lunna Guedes
Adriana Aneli
#projeto52
Anna Clara de Vitto – Mariana Gouveia – Lunna Guedes
Roseli Pedroso – Suzana Martins
Eu já ando com pena da moça do tempo, tentando justificar o que não se justifica. Meu pai diria: só Deus determina as coisas… e eu diria, que apesar de uma chuva fina ter caído aqui ontem, preciso urgentemente de chuva.
Eu sempre me diverti com a moça do tempo, embora prefira o moço do tempo. Dou risada quando anunciam que não fazia tanto calor há mais de quarenta e tantos anos. Ou a última estiagem duradoura foi há mais de cem anos. E eu que já não me entendo mais com a matemática, penso num texto com esses recortes e só. Previsão do tempo é igual as pessoas que olham as coisas e juram que previram o futuro, rá. Não precisa ser mágico para compreender que toda ação gera reação, não previsão. rá de novo
Vivemos tempos de “rás” e, segundo o desejo do Ignominioso, de “rá-tá-tás”! Para que feijão, para que simples árvores (aos milhões), para que emprego, água e energia? Tudo será resolvido na ponta de um fuzil!
Cada vez mais ansiamos por essa chuva boa a lavar, purificar e gerar novas vidas na natureza que, aos poucos, mingua. Assim como nós humanos, que fazemos parte dessa mesma natureza. A ganância, ambição e orgulho é que impede esses olhos ressequidos de ver.